Após serem votadas e aprovadas as proposições da ordem do dia em pauta, na sessão da Câmara Municipal de Caxias (CMC), na noite desta segunda-feira (15), sobreveio o grande expediente, com novo enfrentamento entre oposição e situação. Conduzindo os trabalhos, o presidente Ricardo Rodrigues agradeceu o apoio recebido do vereador Professor Chiquinho, que atuou na primeira secretaria da casa e presidia a Comissão de Constituição, Justiça e Redação, e ao mesmo tempo desejando-lhe boa sorte à frente da pasta de Regularização Fundiária, que assumirá brevemente na gestão municipal.
Depois, o vereador Luís Lacerda (PCdoB), usando a tribuna, refletindo que a sua participação ali será mais rotineira, centrou suas palavras denunciando irregularidades na construção do novo shopping popular de Caxias, recém-inaugurado pela prefeitura.
Irregularidades
Para o vereador, todo mundo aplaudiu a inauguração do Shopping da Gente Deputado Zé Gentil, todo mundo parabenizou, mas se esqueceram de olhar a segurança do local. Ele revelou que, ao visitar o local juntamente com o vereador Daniel Barros, encontrou várias irregularidades, e uma delas foi notada nas barreiras de contenção das sacadas do shopping, as quais, em vez do material de alumínio com metalon ser cravado, estava seguro apenas com cola quente, aplicação essa que não tem a mínima condição de segurar ninguém em um impacto.
Outra irregularidade apontado pelo vereador é que a obra foi feita sem nenhum projeto estrutural. “Fomos ao corpo de bombeiros pedir a licença. Não tinha. E assim deram o pontapé inicial, e assim foi feito. E os nobres colegas vereadores, que estão aqui para defenderem o prefeito, primeiro têm que olhar para a segurança pública, a segurança daquele shopping, porque nunca pegaram a ligação da energia, pois está tudo no escuro”, esclareceu.
Na sua concepção, houve pressa em inaugurar a obra, passados sete anos, pois, bonito e louvável, seria inaugurar um shopping daquele tamanho depois que estivesse tudo pronto. “Aí sim o vereador Lacerda e o vereador Daniel Barros iriam concordar. Não da forma que está. Sem projeto estrutural, cheio de vazamentos, cheio de mofo e sem energia, com gasto de 25 milhões de reais, quando deveriam ter gasto somente 15 milhões. Por isso, não vimos mais a placa com o valor e o tempo de realização da obra. Faltou transparência para exatamente ofuscar os gastos públicos da nossa cidade”, protestou.
Luís Lacerda, em seguida, foi em outra direção, e disse que até aquela data ainda faltava merenda escolar em algumas escolas do município, tudo, na sua avaliação, pelo descaso que se instalou na cidade de Caxias, onde não há compromisso com a população. E falou também a respeito da nota de repúdio ao vereador Daniel, que foi aprovada na casa mesmo ele estando somente defendendo o povo.
Custo da obra
Aparteando Lacerda, o vereador Catulé observou que todas as coisas que estavam sendo ditas, em verdade, já haviam sido ditas por ele mesmo quando ainda estava na situação, e profetizou que tem a certeza que parte da Casa também não concorda com a situação, pois sabe que vereadores têm a consciência sã e que sabem qual a responsabilidade que têm quando recebem a voz do povo para vir para o legislativo.
Catulé revelou que o seu pai lhe dizia que mentira só é contada uma vez, e que da segunda para frente as pessoas esquecem. “Esse prefeito, quando começou essa obra, que era em local arriscado, porque ali era a galeria da pouca vergonha e o corpo de bombeiros havia interditado o prédio do INSS, dizia que a obra custaria sete milhões e meio de reais, e todo mundo ouviu nessa cidade. Mas já se passaram quase seis anos, e agora ele diz que é 25,5 milhões. Então, quem está mentindo? Somos nós, ou o prefeito?!”, questionou.
O vereador prosseguiu afirmando ao companheiro que iria terminar dizendo todo tempo que na CMC nunca houve unanimidade, em todos os seus mais de 30 anos de participação na Casa. E admitiu que nunca houve unanimidade, porque toda unanimidade é burra. “Nessa Casa, fui presidente várias vezes e sempre respeitei quem era oposição. Então, é necessário que se tenha oposição nessa casa, alguém que diga alguma coisa em contrário. Quem pode avaliar, o maior juiz, é o povo. Eu evito dar nomes nesta Casa para não criar inimizades, ferir a suscetibilidade de colegas e de outras pessoas. Mas tem gente que é preciso você dar nome, para falar sobre esse engodo, esse sebo de gato em nossa cara, esse negócio do Fundef”, pontuou.
Agradecendo suas palavras, Lacerda ponderou que, depois das palavras do colega, ainda tinha gente que achava que ele estava falando errado, porque vem criticando o gestor. “Os vereadores e o líder da situação vão ter que tirar leite de pedra, porque daqui para frente será uma denúncia por cima da outra, e vão ter de andar em Caxias para verem como está caótica a gestão pública da cidade. Você vai lá no IPEM, e vê as ruas cheias de sujeira, cheias de buraco. Vai lá no João Viana, para você ver as ruas, a situação que está, e você ver a dor do povo”, adiantou.
Pedido de CPI
Assomando à tribuna, em seguida, o líder da oposição, Daniel Barros, evidenciou um discurso no qual questionou o custo da obra do Shopping da Gente. “Primeiro, o prefeito disse que ele custaria 7 milhões de reais, e seria construído com recursos próprios do município. Agora, ao inaugurá-lo, falou que foram 25 milhões de reais, gastos ao longo de seis anos de edificação. E mesmo assim a obra não está construída, porque tem problemas de infiltrações, rede elétrica que não funciona, os vidros são impróprios, e há também o fato da ausência do Alvará de Funcionamento que é emitido pelo Corpo de Bombeiros de Caxias. Então, é meu dever solicitar que os colegas me apoiem para que seja criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os valores gastos na construção do Shopping da Gente”, disse.
Daniel lamentou que o colega Júnior Barros sempre use o microfone após ele falar no plenário. “Não faz nenhuma intervenção propositiva, mas fala mal de mim, sempre depois que eu falo, embora sejam de coisas que não tem valor nenhum”, argumentou.
Falsificação
Ele cedeu a aparte ao vereador Catulé, e este esclareceu que sempre tinha sido um entusiasta da obra monumental que é o shopping popular da cidade. “Eu era entusiasta, porque era a redenção desses que chamamos de camelôs, mas que eu digo que são comerciantes voluntários. Era redenção, porque nós iríamos tirá-los do sol e da chuva, e iríamos também reurbanizar melhor o centro da nossa cidade. E eu fui tão entusiasta que, aqui nesta casa de leis, dei-lhe o nome do Comendador Alderico Silva, um homem que construiu o primeiro hospital no interior do Maranhão, a companhia telefônica de Caxias, o homem que, no nordeste, teve a primeira concessionária de veículos da Willys Overland do Brasil, um homem que teve o primeiro comércio de Caxias, vendendo de tudo que você podia imaginar, um nome que foi mudado na calada da noite, e não foi na atual gestão desta casa, e botaram o nome do pai do prefeito”, enfatizou.
E, continuando: “Que casa de lei é essa que falsifica assinatura de colegas, que casa é essa que se acocora e transforma um projeto de lei em nada. Esse prefeito aí, só pode ser o satanás, o cão ou um macumbeiro, porque ele deixa esta casa muda. Em 40 anos de política, eu nunca vi um homem fazer o que ele faz com esta casa. E eu, aqui na presidência, sempre dizia: esta casa não é o quintal da prefeitura. Agora já preparou uma horda gigante para me derrotar. Mas eu já vi isso no passado, duas vezes, e a penúltima foi Léo Coutinho, e agora esse que eu ajudei a trazer para a prefeitura. Eu era um incômodo, fora Vossa Excelência, vereador Daniel, que já entrou na oposição. Mas eu não posso legislar aqui os outros me mandando o que tem que fazer, e até apunhalar colegas pelas costas”, revelou.
Finalizando, Daniel Barros destacou que não poderia ser hipócrita com ele mesmo e trazer para a Câmara de Caxias essa nota de repúdio que a ele foi referendada pelos colegas. “Não fiz isso, porque passamos a ter a consciência de fazer o que é correto, e fazer o certo é muito difícil, lutar pelo certo é muito difícil, mas trouxe um discurso, sozinho, e hoje ele é um discurso que está grosso, porque o povo entendeu que o Daniel, que falava lá atrás, é o que fala hoje a mesma coisa. E minha regra é a mesma, e não muda pelo dinheiro, pelo poder, mas sim pelos valores”, acrescentou, destacando que as suas denúncias, em vez de ser inventadas, acompanham sempre as informações que recebe do povo pelas redes sociais, e que são os pais, os próprios alunos que informam o que não está funcionando.
Antes de passar a palavra ao vereador Júnior Barros, último a usar a tribuna na noite, o presidente Ricardo Rodrigues, respondendo a uma observação feita anteriormente pelo vereador Catulé, disse que a Câmara de Caxias não falsifica assinatura. “Vossa Excelência pode até ter presenciado aqui antes, mas nesta presidência, tenha certeza, não aconteceu e não irá acontecer, e quando sair um documento desta Casa ele terá a digital desses companheiros e dessas companheiras, como saiu a lei que garantia uma possível antecipação de precatórios”, esclareceu.
Catulé, por ter sido citado, lembrou que havia feito ressalva à atual gestão, exatamente porque Ricardo Rodrigues não dirigia a casa quando o fato aconteceu, mas não gostaria de declinar nomes, até porque há o precedente de envolvidos não poderem mais responder pela ação que ocorreu anteriormente na CMC.
Revidando as agressões
O vereador Júnior Barros, fechando os pronunciamentos, disse que até tinha um discurso preparado para o momento, e este seria para elogiar e enaltecer as obras entregues à população caxiense pela gestão municipal, porque Caxias tem mudado o seu patamar a nível de Estado, a nível de Brasil; falar da viagem feita a Brasília, onde foram conseguidos os precatórios do Fundef no Ministério da Educação, que concedeu à cidade o privilégio de já colocar no orçamento e garantir a execução dos mesmos para os professores locais.
“Entretanto, como aqui fui prontamente agredido, não vou revidar não, mas esclarecer que tem pessoa que chegou em Caxias só com o registro, e na cota do sobrinho dele, que botou ele na política, numa cota em que ele veio sim a cometer atos, desvios, que foram jogados nesta sessão, mas que foram respondidos de forma vaga. Eu não entendo porque o colega veio me agredir, porque eu não participo do Executivo, foi Vossa Excelência que participou dele, que chegou aqui de paraquedas e participou daquele desastre que foi a Maternidade Carmosina Coutinho. Me mostre algum projeto na saúde que você participou naquela época. Se você me trouxer um projeto, eu lhe peço desculpas”, argumentou, endereçando as colocações para o vereador Daniel Barros.
Júnior direcionou ao plenário outra falta cometida pelo colega da oposição, enfatizando que ele usou a tribuna para dizer que o Programa Minha Casa é 10 era o maior estelionato político de Caxias, enquanto os caxienses estão vendo as casas de entrega gratuita do município sendo entregues pela cidade, dentro das condições que a prefeitura tem e com recursos próprios. Ele cobrou a promessa feita por Daniel Barros de construir e doar pessoalmente uma casa popular sempre que o município vier entregar uma casa do seu programa habitacional para a população.
“Vá ver o Minha Casa é 10 no Seriema, no Teso Duro. Nunca tive, nem terei medo de Vossa Excelência. Eu falo na sua frente. O que for errado, eu falo, e lhe repudio veementemente, e não vai ser nota não, se você estiver errado, eu falo. Chegou nesta casa colocado pelo seu sogro. Devia ao menos respeitar a sua família. Diz que as casas não são bem feitas. É fácil viver no Vilage. De onde veio. Nunca conheci o escritório de Vossa Excelência. Nunca vi defender uma causa de advocacia. Se tem, não sei. Me prove, me mostre. A realidade está aí. 2024 está bem aí, e quero saber onde irá concorrer, porque o apoio da família não tem mais; porque tem a sua regra de traidor; deixou quem lhe botou aqui para trás, para pegar subsídios e pagar a si mesmo em seu mandato”, concluiu.